quarta-feira, 9 de setembro de 2009

BODAS DE OURO DE ANTONIO E CARMELIA

BODAS DE OURO DE ANTONIO E CARMELIA SELENKO, REALIZADA NO DIA 05/09/2009 ÁS 11:00 NA IGREJA NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO, CELEBRANTE Pe WILSON CZAIA. ESTAVAM PRESENTES OS FILHOS DO CASAL - SILVIA, ROGERIO, OSVALDO, ROBERTO, DENISE, MARCIA, TERESINHA, CLÉLIA, ELLEN, ANTONINO, KAROL E FERNANDA. E OS 28 NETOS. A CELEBRAÇÃO TEVE A ESPECIAL PARTICIPAÇÃO DO Pe WILSON, GRANDE AMIGO DA FAMÍLIA QUE DESDE CRIANÇA TEVE CONTATO COM A FAMÍLIA, PARA NÓS DA FAMILIA É SEMPRE UMA HONRA TER O Pe WILSON COMO CELEBRANATE, ELE REALMENTE TEM O DOM DA PALAVRA, MESMO QUE USE A LINGUAGEM DE SINAIS, ELE CONSEGUE NOS MOSTRAR O VERDADEIRO SENTIDO DE TUDO. A CERIMÔNIA ACONTECEU NA IGREJA AONDE TODA A FAMILIA CRESCEU E SEMPRE PARTICIPOU. A CELEBRAÇÃO DUROU DUAS HORAS, MAS TODOS CONFESSAM NÃO TEREM PERCEBIDO, AFINAL O Pe WILSON É ABENÇOADO E NÃO DÁ PRA VER O TEMPO PASSAR COM SUAS PALAVRAS INSPIRADORAS.APÓS A MISSA TIVEMOS UM DELICIOSO ALMOÇO, COM A PRESENÇA DE TODOS E COM A GRAÇA DE DEUS ESTAVA TUDO MUITO GOSTOSO, MAS NADA SE COMPARA A MAGIA DESTA BODAS DE OURO QUE NOS LEVA A UMA ÉPOCA EM QUE REALMENTE SE DAVA SENTIDO A PALAVRA FIDELIDADE.AS COMEMORAÇÕES TERMINARAM POR VOLTA DAS 15:00, COM A ALEGRIA E O ORGULHO DA MISSÃO CUMPRIDA: PREPARAR UMA CERIMÔNIA DIGNA DESSA FAMÍLIA.

sábado, 5 de setembro de 2009

A vida segundo os surdos

Quando menino, fui ao ca­samento de um tio em Umuarama. De tão bom, acho que não voltei para casa até agora. Na minha memória, a cidade cheira a café moído na hora, adoçado com açú­­car cristal. Lembro meu es­­panto ao saber da quantidade de galinhas e porcos abatidos para o enlace, praticamente um atentado ao reino animal. E ainda me vejo andando de carroça pela terra vermelha, achando bem mais divertido que o tobogã do Atlé­­tico. “As Umua­­rama” eram só felicidade.
Da festa pouco me recordo. Até percebi as margaridinhas na grinalda de tia Ivete, mas os olhos não desgrudavam eram de Alzira, Martinho e Porfírio, os irmãos surdos da noiva. Foram os primeiros que vi na vida.
Feito astros da pantomima, faziam desenhos no ar para traduzir aos forasteiros verbos ru­­rais como capinar e pelejar. Seus troncos se moviam como se fossem barqueiros do Volga, afrontando, com gestos expressos e dedos ligeiros, os tímidos de braços cruzados vindos da capital. O saldo é que despertavam nos outros ganas de experimentar o que diziam. Capinar e pelejar, segundo os surdos, devia ser tão bom quanto tomar banho de rio e montar a cavalo.
Só sei que eu, que nunca ha­­via ido ao teatro, nem tinha idade para saraus, entendi o significado de mais dois verbos, como dançar e interpretar, implícitos naquelas libras caboclas. Muitos anos depois, quase morri de té­­dio ao ler O Corpo Fala, de Pierre Weil e Roland Tompakow. Alzira e os seus manos, uma vez, já tinham batido o texto para mim. Melhor que eles, só Denise Stoklos.
Semana passada, tive novo encontro marcado com os surdos. Foi na Paróquia São Francis­­co de Paula, onde o padre Wilson Czaia, 40 anos, deficiente auditivo, celebra para os que não ou­­vem e simpatizantes. Como dantes, ainda não voltei para casa. E se me perguntarem o que fazer em Curitiba num sábado à tarde, direi: “Vá à missa do Czaia”.
Para quem não sabe, a comunidade dos deficientes é uma “igreja pessoal”, termo canônico para denominar uma paróquia que funciona dentro de outra paróquia. Parece um consulado. Chama-se Nossa Senhora da Ternura, nome pelo qual ficou conhecido o ícone da Virgem de Vladimir ou Nossa Senhora do Doce Beijo, cultuada em terras russas. A escolha é óbvia. “As pessoas especiais precisam de carinho”, diz o sacerdote, encenando o acalanto.
Já tenho uma teoria. Se não soubéssemos falar nada de nada – feito os protagonistas de Enigma Kasper Hauser ou O mistério de Annie Sullivan – sairíamos daquela cerimônia capacitados para nos comunicar com qualquer um. À revelia de a linguagem dos sinais ser diferente em cada idioma, com os gestos básicos dos surdos poderíamos bater um plá com zulus e dinamarqueses, com indonésios e kunas. A Ternura é o epicentro do globo.
Tem mais. Do “em nome do Pai” ao “vamos em paz...” é como se experimentássemos uma confusão dos sentidos. Sei não, mas os ouvidos ficam moucos diante do gestual desabrido dos fiéis surdos, a dizer com mãos elevadas e dedos tilintantes loas como “a Ele seja a glória, aleluia, amém”.
Quem traduzia o canto em libras era Andréia Kohut. Seus ges­­tos são de uma vestal, coreografando arcos e conchas com o pai de todos, o mata-piolho, fu­­ra-bolo, seu vizinho e o mindinho. Se é difícil imaginar, pense em como você rezaria um Pai-Nosso sem dizer palavra? Ou como faria para dizer “pão repartido”? Experimente.
É delicioso ver padre Wilson passar a mão sobre a barriga, pândego, com ares de saciado pelo trigo. Sorrisos arranham aos céus. Corpos piedosos fazem iê-iê-iê. Não falo libras. Mas saí de lá entendendo que assim co­­mo carpir e pelejar, celebrar é dos deuses. Era o que estava escrito nos rostos que eu vi.
Agradecimento ao psicólogo Aldemar Balbino da Costa, que atende seus pacientes em libras, pela tradução da entrevista com o padre.


José Carlos Fernandes é jornalista.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pai Nos­so na lin­gua­gem de si­nais
Um dos seis padres surdos em atividade no mundo, Wilson Czaia é carismático, performático e brincalhão
BBB
Bom dia a todos’’, anuncia o padre Wilson Czaia na Língua Brasileira de Sinais (Libras). ‘‘Estou muito feliz por estarmos reunidos com esta família para comemorar os 49 anos do casamento de Antonio e Carmelia.’’ Enquanto padre Wilson, 39, inicia a celebração na linguagem dos sinais, o padre Ricardo Hoepers interpreta a prece ao microfone. A platéia está absolutamente concentrada no gestual de Wilson, que é carismático e expressivo.   A única vez que ele fala ao microfone é no momento de consagrar a hóstia. A voz é pouco articulada, típica de um natisurdo. ‘‘Padre Wilson é um dos seis padres surdos no mundo’’, comenta padre Ricardo, motivador e principal influência de Wilson. Ainda que exista muitos outros padres com diferentes graus da deficiência, só há outros cinco em atividade no mundo que, como ele, nasceram com surdez profunda.
jjjj
Desde a infância, lembram Maria de Lurdes e Eduardo, os pais, Wilson dizia que queria ser padre. ‘‘Mas não levávamos a sério, pois não parecia algo possível. Hoje, quando vejo ele no altar, me pergunto se é realidade ou um sonho’’, comenta, um tanto emocionada, a mãe.   A vontade dos primeiros anos começou a tornar-se realidade na Primeira Comunhão de um grupo de crianças surdas em Paranaguá, em 2000. Na viagem de retorno a Curitiba, sentado ao lado do padre Ricardo, Wilson escreveu um bilhete para o pároco. ‘‘Eu gostaria muito de entrar no seminário.’’   Depois de passar pela faculdade de Filosofia, a qual lembra das dificuldades com conteúdos abstratos, e a de Teologia, em que um colega que dominava Libras fazia as vezes de intérprete, Wilson foi ordenado diácono, em 2006, na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação, a mesma em que, agora, celebra os 49 anos da união do casal Antonio e Carmelia Selenko. A dupla conheceu o padre quando ainda era um menino, época em que brincava com os 13 filhos do casal. Motivados pela amizade com Wilson, quatro deles estão aprendendo a linguagem dos sinais.
jjjj
Descontração
bbbb
Ao perceber o que vem pela frente, Padre Ricardo hesita ao microfone. E, por fim, interpreta os gestos de Wilson. ‘‘Estou um pouco preocupado’’, diz. ‘‘Se, na celebração de 49 anos vocês estão chorando, fico pensando que, no ano que vem, nos 50 anos, vamos nadar entre lágrimas de alegria e tristeza’’, brinca Wilson. No altar, ele impressiona pelo carisma e força performática. Ainda que sempre tenha um intérprete ao microfone quando celebra missas aos sábados, às 17 horas, o gestual se faz suficiente mesmo para aqueles que não dominam a Libras. ‘‘Essa é minha maneira de expressão. E, de fato, muitos ouvintes entendem o que eu digo’’, comenta. Wilson usa um celular, em que troca mensagens de texto, digitadas à velocidade impressionante. O único porém está no preço da conta. Ele aproveita e faz um apelo às telefônicas. ‘‘O Padre Ricardo fala muito e paga pouco, eu troco algumas mensagens e pago muito.’’ Ricardo lembra com alegria que a presença de Wilson tem despertado a vocação de outros surdos, alguns dos quais estão motivados a seguir o mesmo caminho. Wilson é o responsável pela paróquia que divide o espaço com a São Francisco de Paula, que tem como pároco o padre Ricardo. A Nossa Senhora da Ternura é dedicada às pessoas com deficiências e, às quintas e aos sábados, oferece aulas de Libras, ao custo de R$ 50 por mês e nas quais o próprio Wilson é um dos professores.
Rafael UrbanEquipe da Folha

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Biografia de Padre Wilson Czaia

Wilson nasceu no dia 10 de fevereiro de 1969, na cidade de Curitiba, no Paraná, Brasil. Filho do Eduardo Czaia e Maria de Lourdes Czaia. Tem um irmão, Carlos José Czaia (três anos mais velho) casado com Claudete Lucio Czaia e tem dois sobrinhos, Carlos Eduardo, Mariana e Anna Barbara.

Foi batizado aos 23 de fevereiro de 1969 na Paróquia de São José, no Capão Raso, pelo Pároco de então Padre Angelo.

Até aos quatro anos, ele viveu como toda criança, chorava, brincava e se alimentava normalmente. A partir dessa idade, seus pais começaram a notar que ele era mais agitado do que as outras crianças e também perceberam que quando o chamavam ele não respondia. Preocupados, levaram-no ao médico e suas desconfianças foram confirmadas, ele era surdo.

Seus pais preocupados com seu futuro, pediram auxílio aos profissionais da saúde, que orientaram o encaminhamento para a Escola de Educação Especial Epheta que tinha como Diretora Irmã Letícia.

A escola teve um papel importante em sua família, pois trouxe esperança e a certeza que a partir dali, ele teria um futuro e uma vida melhor. Com o apoio da Escola seus pais não desanimaram e investiram tempo e sacrifício para manter em dia todas as necessidades especiais que sua condição de surdo exigia.
Ele teve o privilégio de conviver com Irmã Nydia, fundadora da Escola Epheta, que foi sua professora e catequista, e que também era surda.

Graças a escola Epheta ele desenvolveu a comunicação oral, aprendeu a emitir sons, a construir frases, a conhecer o sentido das palavras. Todos os primeiros anos de escola foram de intensa estimulação da fala e só posteriormente recebeu orientação profissional. Ainda na escola Epheta construiu sua vida como pessoa e com os ensinamentos recebidos, teve facilidade na socialização e na adequação de sua surdez, na escola normal.
Com condições de entrar no ensino regular, seus pais escolheram a Escola Social Madre Clélia onde cursou até a 8º série. As Irmãs Apóstolas o receberam com muito carinho e o ajudaram a entender o que é educação e disciplina. Então, pode receber dupla formação: pela manhã estudava na Escola Epheta e à tarde no ensino regular, com as Irmãs do Sagrado Coração de Jesus.

No dia 04 de dezembro de 1981 ele fazia sua 1ª comunhão na capela do Instituto Social onde funcionava a Escola Epheta e a casa das Filhas do Coração de Maria.

Completou o 2º grau no colégio Opet, já integrado no ensino regular. Realizou sua Crisma no dia 27 de outubro de 1997, na Paróquia Santa Isabel, pelas mãos de Dom Albano Cavalin. Continuou sempre ligado à Escola Epheta, participando dos grupos de jovens e encontros, que lá eram promovidos. Os seminaristas Palotinos, começaram a organizar encontros com casais surdos, e ele começou a participar das palestras, que o ajudaram muito a conhecer a Igreja. Com isso, um grupo de casais e jovens surdos, começaram a se reunir semanalmente, para aprofundar a fé. A maioria era ex-aluno da Escola Epheta, e por isso tinham algo em comum.

A pedido dos seminaristas Palotinos, Dom Pedro recebeu alguns surdos e os mesmos seminaristas André e Cesar para uma audiência. Lá foi relatado a preocupação de que muitos surdos estavam indo para outras seitas. Dom Pedro se comprometeu a buscar apoio entre os seminaristas e padres diocesanos. E assim aconteceu, que no dia 10 de outubro de 1997, numa missa do dia dos Pais, Dom Pedro visitava a escola Epheta e apresentava o seminarista Ricardo que iria ajudar os surdos. De fato, em 1999 tiverem sua primeira missa com Língua de Sinais. A partir deste dia, ele começou a sentir vontade de também ajudar os surdos. Padre Ricardo fundou a Pastoral dos Surdos em Curitiba e ele pode acompanhá-lo juntamente com a coordenadora surda Elizanete Fávaro, nas missões em Paranaguá. Lá conheceu a triste realidade de surdos sem família, sem estudo, sem recursos, fazendo a primeira comunhão. Foi nesse dia que sentiu que Deus o chamava para um trabalho mais profundo, com os surdos. Perguntou se poderia entrar no seminário, e daí em diante começou o seu processo de discernimento, durante o ano de 1999.
Em 2000, iniciou os estudos de Filosofia e até hoje é muito grato ao Padre Chemin que compreendeu sua dificuldade de adaptação.

No ano de 2001, Padre Chemin aceitou que ele pudesse acompanhar o Padre Ricardo, devido sua facilidade na comunicação com os surdos. Diante disso, ficou como aluno externo morando na Catedral e estudando todos os dias na FAF.

No ano de 2002, iniciou os estudos de Teologia com o Padre André, no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos. Durante o processo de formação, passou por muitas dificuldades por causa da surdez, mas em nenhum momento, os formadores o abandonaram, pelo contrário, sempre o apoiaram e o animaram para continuar o discernimento.

Em 10 de junho de 2006 já foi ordenado Diácono na Paróquia Nossa Senhora da Anunciação e terminou seus estudos de teologia, após ter realizado a prova De Universa, que era oral e com a presença de um representante de Roma, da Universidade Lateranense. Sua ordenação sacerdotal aconteceu no dia 26 de novembro, na Igreja São Francisco de Paula com a presença de surdos do Brasil.

Um ano depois da ordenação sacerdotal, o Arcebispo Dom Moacyr José Vitti lhe confiou a Paróquia Nossa Senhora da Ternura para pessoas com deficiência, tendo tomado posse como Pároco, no dia 02 de dezembro de 2007.
Hoje, ele tem oportunidade de crescer cada dia como mais pessoa, superando as barreiras físicas e tentando-se adaptar ao mundo dos ouvintes.

Esta é sua mensagem:

“Graças aos formadores, à Pastoral dos Surdos, à Psicóloga, à Fonoaudióloga, aos meus pais e aos meus amigos, posso dizer que o milagre de Jesus: “Epheta” (abre-te) já aconteceu na minha vida, porque sou um surdo feliz, com coração ouvinte.

Deus me ajude a caminhar sempre adiante na minha vocação.


Pe. Wilson Czaia”